No dia 24 de agosto, segundo dia do 46º Encontro da Regional Nordeste III do ANDES-SN, os sindicalistas debateram dois temas fundamentais para a categoria docente: “A universidade e a questão do Financiamento da ciência e tecnologia” e “Precarização e Expansão nas Universidades Brasileiras e Multicampia”. O primeiro tema foi exposto por Eduardo Serra, professor da UFRJ, que destacou alguns passos para mudar o cenário do financiamento de pesquisa. Já o segundo tema ficou a cargo do vice-presidente do ANDES-SN, Luiz Henrique Schuch, que avaliou o processo de expansão das universidades brasileiras.
Quando questionado sobre o que fazer para que não haja uma polarização e fragmentação da classe docente na busca por financiamento de pesquisa, Eduardo Serra afirmou ser necessário pensar em alguns passos. Para ele, o primeiro passo seria combater fortemente a ideia de competição entre as pessoas individualmente, bem como a lógica de priorizar as áreas que têm maior visibilidade ou professores que tenham maior número de publicações: “O que a gente deve defender é um financiamento de grandes projetos que incluam todos os professores interessados a participar, e a relevância social tem que ter um peso forte no julgamento de pedidos de recursos para projetos de pesquisa”, colocou Serra.
A institucionalidade seria, na visão de Serra, outro passo. Para ele, os projetos institucionais que envolvem áreas diferentes, campos diferentes e mais professores, devem ter prioridade em relação a projetos individuais. Por fim, o docente citou a necessidade de um projeto de desenvolvimento do país: “Um projeto voltado para a maioria da população da classe trabalhadora que, pela natureza do desenvolvimento brasileiro com grandes empresas estrangeiras, deve ser um projeto anticapitalista”, defendeu o docente.
Expansão e precarização do ensino no Brasil
O último tema debatido no 46º Encontro Regional do ANDS-SN foi “Precarização e Expansão nas Universidades Brasileiras e Multicampia”. Como vem sendo colocado pelos docentes em diversas ocasiões, Luiz Henrique Schuch também deixou claro que o ANDES-SN não é contra a expansão das universidades públicas, mas que ela tem de ser feita obedecendo ao que diz a constituição a respeito do ensino público no país: “Tem que ter padrão de qualidade, oportunidade de lidar com o processo educacional em termos de sociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, contar com laboratórios, com currículos que sejam compatíveis com o processo de construção do conhecimento e não simplesmente um aligeirado repasse de pacotes”, disse Schuch.
Para o vice-presidente do ANDES-SN, o que está se operando por trás do movimento recente de expansão é uma estratificação do sistema, onde a maior parte é compelida a abandonar a ideia de produção de conhecimento, de pesquisa científica e se dedicar como um repassador de escolão: “Defendemos que as universidades sejam autônomas para produzir seu projeto regional, que todas as instituições sejam consideradas vocacionadas por padrão de qualidade e não por estratificação, algumas relegadas como se fossem vaticínio, a serem escolões, e outras com a possibilidade de pensar em ser produtoras de conhecimento, afirmou ele.
Schuch ainda lembrou que a precarização do ensino no Brasil não está apenas na recente onda de expansão das universidades públicas. Segundo ele, há também uma precarização da educação, das condições de trabalho e de estudo, as bibliotecas e as condições de permanência estudantil são secundarizadas. Obviamente, a expansão termina contribuindo para maior precarização. “O que parecia ser uma boa ideia, acaba sendo um monte de dinheiro jogado fora, e o que seria mobilidade, vira uma desterritorialização humana a favor do domínio do território pelo aspecto econômico e empresarial”, pontuou Schuch.
Diante de todos os problemas enfrentados pela educação pública brasileira, consequentemente pelos docentes, Schuch não tem dúvidas de que os esforços vão desde coisas objetivas como, por exemplo, moradia dos estudantes, a sala do professor, o financiamento da pesquisa, até uma raiz muito mais ampla e complexa do que está se fazendo com o país. “Precisamos nos organizar dentro das universidades para exigir que os fundamentos da constituição sejam recuperados, cobrar das autoridades públicas. Hoje, nós somos chamados de gestores que executam programas políticos imediatistas do governo arrancados nem sei de onde. Então, há todo um campo político de luta pela frente, será pela luta que nós vamos conseguir, não será por convencer ninguém”, conclui ele.