Que projeto de Universidade defendemos para UFRB?
Ao ler cuidadosamente o documento de referência do novo Centro da UFRB, UNIAF, nos perguntamos qual é o projeto desta Universidade, quais são os seus verdadeiros objetivos, e quais os desafios colocados para a comunidade acadêmica e do Recôncavo?
Infelizmente, na história recente da UFRB a criação de novos Centros de Ensino se deu de forma no mínimo aligeirada, comprometendo as discussões e prevalecendo os interesses externos à comunidade, assim foi o caso do CETENS e do CECULT.
A política de financiamento do governo federal para as IFES cria uma relação de submissão ao Ministério da Educação que afronta a autonomia das Universidades, na medida em que as mesmas deixam de divergir do projeto oficial e arcam com as consequências das políticas impostas de cima para baixo a exemplo do REUNI, FUNPRESP e EBSERH.
A UFRB figura entre aquelas Universidades que aderem acriticamente à cartilha governamental, mesmo que precise se desgastar politicamente com aqueles que a constroem cotidianamente, e essa opção política já tem gerado seus impactos negativos, o caso do UNIAF é um bom exemplo.
Construída como receita pronta do Ministério da Educação e atrelada aos interesses daquilo que a UNESCO acha que é bom para os países subdesenvolvidos, a UNIAF é uma parte importante do processo de consolidação da denominada “Universidade NOVA”.
A UFRB no conjunto da sua comunidade constrói a partir de suas diferentes ações uma resistência a esse projeto colonizador de universidade pública, pervertendo os seus interesses iniciais, levando-a a galgar objetivos de grande relevância social que não estavam no script oficial. Não queremos ser um escolão, queremos ser uma Universidade pautada na integração entre ensino, pesquisa e extensão. Neste sentido, uma vez mais, registramos que os nossos gestores precisam submeter estes projetos às instâncias democráticas da universidade de baixo para cima, a saber: Colegiados de Cursos, Conselhos de Centro, Consuni.
No caso específico do UNIAF, mas não foi diferente do CECULT e CETENS e outras tantas decisões nodais para a Universidade, a estratégia dos nossos gestores é a de chamar a comunidade via e-mail para o debate. Até aqui nada demais, pois este deve ser realmente o procedimento. No entanto, é preciso considerar dois aspectos dessa questão que envolve a participação democrática da comunidade nas decisões políticas da Universidade. A primeira, é que na correria do dia-a-dia, mensagens oficiais nem sempre são lidas com a devida atenção. O(a)s docentes estão envolvido(a)s nas suas tarefas cotidianas – muito(a)s com 16 horas aula – o que dificulta o alcance de informações a respeito do expediente universitário. Se realmente queremos um debate politizado é preciso ir além de um simples convite por e-mail. Daí a importância de se levar primeiro para os Colegiados de Curso as discussões nodais da Universidade.
O segundo aspecto e, talvez, o mais relevante, é que o(a)s docentes estão desacreditado(a)s da “democracia acadêmica” praticada na UFRB. A comunidade não se esforça em participar dos convites oficiais, mesmo quando bem intencionados, o uso do cachimbo já deixou a boca torta, e foi o que aconteceu agora com o UNIAF. A chamada no site da universidade e as apresentações oficiais nos Centros tiveram baixa participação, onde nenhum Conselho de Centro discutiu e deliberou sobre a proposta do Gabinete do Reitor, onde a maioria da comunidade não sabe do que se trata, e que deve ser aprovado “democraticamente” amanhã. Alguns irão dizer, “infelizmente é assim mesmo”, e irão culpabilizar a comunidade pela sua apatia em participar dos espaços de construção da universidade. Com certeza dirão: “não podemos aguardar que todos estejam esclarecidos para fazermos as coisas” – mesmo tratando-se de uma Universidade.
Com o objetivo de elevar a formação geral dos estudantes da UFRB, nos é apresentado como alternativa a criação do UNIAF, um Centro de Ensino centralizado que irá fazer o que os outros já existentes devem ou deveriam fazer. Ao reconhecer a importância da formação em língua estrangeira, a proposta propõe a criação de um novo Centro, quando o CFP já tem uma área de conhecimento que trata disso. Ao pensar na elevação dos conhecimentos nas humanidades, nas artes e no desenvolvimento da cultura corporal dos estudantes o CAHL, o CECULT, e o CFP já possuem docentes e pesquisadores. Porque criar um novo Centro para fazer o que os atuais já fazem, ainda que timidamente? Porque criar um novo Centro ao invés de potencializar e oferecer estrutura para os já existentes?
Sabemos que por trás deste interesse da dita “afiliação e de elevação da formação geral”, – que ninguém é contrário – existe um projeto de formação não só flexível como diz o documento, mas fragmentada e precária, onde a formação geral tende a ser tratada sem dialogar com as especificidades de cada área de formação. Uma formação homogeneizada e industrial que iguala todos e forma em massa, sem garantir a qualidade. Será que isso é o que realmente defendemos para a Universidade que tem mais pobres no Brasil?
Quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Diretoria da APUR