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Entrevista com o atual presidente da APUR, David Romão Teixeira

Quais os maiores desafios encontrados para o estabelecimento de uma associação em uma universidade nova e multicampi como a UFRB?

A UFRB tem um número reduzido de docentes em comparação com outras IFES, e este quadro docente tem passado por mudanças cotidianas, com remoções e redistribuição internas e externas, o que dificulta o envolvimento regular de alguns docentes com a universidade, como também com o sindicato. Na UFRB, parte significativa dos docentes está envolvida com a administração da universidade direta ou indiretamente, dificultando a participação dos mesmos nas atividades e na construção da sua organização de classe. A multicampia tende a gerar problemas de duas ordens: de identidade institucional e de logística. A organização administrativa atual “multicentro” da UFRB, que favorece uma relação de pertencimento vinculado ao seu Centro de Ensino, e não necessariamente a sua universidade, favorecendo uma identificação limitada ao espaço prioritário de atuação, o que dificulta muitas vezes a compreensão e a solução para os problemas, principalmente os que são comuns a todos os Centros de Ensino. Numa universidade multicampi, onde o trânsito entre os Centros e a Reitoria é dificultado pelas péssimas condições das rodovias, carência de transporte público, e serviço de internet, a atividade sindical sofre com impedimentos de se fazer com maior regularidade, exigindo-nos maior disponibilidade de tempo e recursos financeiros para atender satisfatoriamente os nossos sindicalizados.

Como o senhor analisaria a participação da APUR na greve do ano passado?

Brilhante! Foi uma experiência sui generis, uma pequena associação sem recursos, graças à ação política da categoria, conseguiu, numa greve de grande repercussão nacional, intervir qualitativamente nos rumos do movimento, mobilizando localmente e construindo espaços de deliberação democrático, por assembleias que tiveram em média um quarto da categoria presente, uma das maiores médias nacionais. Respeitando a categoria, enfrentando a pauta local, sem abrir mão da pauta nacional, a diretoria da APUR e o comando de greve transformaram, em quatro meses, uma experiência de poucos, numa seção de 309 filiados hoje.

A APUR tem travado um diálogo bastante enriquecedor não só com as demais categorias da universidade, mas também com diversos sindicatos. Qual a importância desse diálogo?

Esse diálogo é fundamental na construção da identidade de classe. Os docentes, assim como a comunidade, precisam enxergar a nossa categoria como sujeito da classe trabalhadora, submetida ao processo de intensificação e de exploração do seu trabalho. A experiência do pólo sindical em Cruz das Almas já apresenta resultados positivos. Junto com as demais representações da região, fomos às ruas para barrar o PL das Terceirizações, demonstrando que nossa luta está para além dos muros da universidade, e que ela só pode ser vitoriosa com a unidade da classe. Compartilhar as pautas específicas, lutar unificado nas pautas comuns e agir solidariamente com os demais trabalhadores da região está propiciando um amadurecimento político da categoria docente da UFRB.

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Apesar de ser uma associação nova, a APUR tem se destacado na luta docente. Como é a relação da associação com o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN)?

No surgimento da APUR tivemos muitas dificuldades. Por sermos a única seção do ANDES nas IFES da Bahia, ficamos com dificuldades de intervenções e diálogos sobre os problemas das universidades federais. As diferenças políticas serviram de desculpas e empecilhos para maiores aproximações. Com a greve, houve uma oxigenação do movimento nacional e este cenário favoreceu a APUR agir dentro do sindicato nacional com independência e autonomia, mesmo permanecendo as diferenças políticas. Com a organização sindical atual, a APUR participa regularmente dos fóruns do ANDES-SN, assim como contribui financeiramente conforme estatuto.

Como tem sido a relação da APUR com a reitoria?

De independência e autonomia. Estabelecemos um processo contínuo de negociação. A ausência de uma representação sindical no início da universidade e um conjunto de ações administrativas da UFRB gerou uma grande pauta docente, que precisa constantemente ser negociada. Neste sentido, a APUR segue lutando pelas reivindicações dos docentes e pressionando a administração central para o seu cumprimento.

O senhor poderia fazer uma comparação da UFRB antes e depois da APUR? Quais as principais mudanças e melhorias?

Vejo uma grande diferença no espírito político para solução dos problemas institucionais. Antes da APUR a solução dos problemas passava por relações individuais, muitas vezes centralizadas na Reitoria. Os docentes e a comunidade em geral não sabiam o que acontecia na universidade como um todo, o que facilitava saídas individuais para problemas coletivos. Hoje, via APUR, a comunidade tem acesso a informações de toda universidade, e tem, principalmente, uma representação disposta a defendê-los, isso oferece uma maior segurança para que os docentes possam intervir politicamente. No nosso último boletim, apresentamos uma síntese de conquistas desta universidade graças à luta dos docentes da UFRB. Não tenho dúvidas que quanto mais forte e atuante a APUR, melhor será a UFRB. Os dados dos cinco anos de nossa existência comprovam isso, o movimento docente organizado conseguiu, no último ano, atendimento de pautas que se arrastavam desde a criação da UFRB, e estas vitórias representam melhorias significativas para a universidade.

Os professores enfrentam inúmeras dificuldades no exercício da profissão, mas a luta não para. Diante disso, qual mensagem o senhor deixaria para a sua categoria?

Que a saída para os problemas institucionais específicos e individuais deverão ser resolvidos de forma coletiva. Os problemas que enfrentamos para realizar nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão só serão resolvidos com mudanças estruturais da nossa universidade, que passa por melhores condições de trabalho e de ensino. Muitos colegas estão ficando doentes por conta do trabalho excessivo para desenvolver importantes projetos institucionais que, muitas vezes, são dificultados pela estrutura administrativa e pelas condições de trabalho na UFRB. Por isso, reforço a importância de fortalecer nossa representação sindical, uma APUR forte conquistará melhorias necessárias para a UFRB e para o Recôncavo.

David Romão Teixeira

Presidente da APUR Gestão: 2012-2014
Mestre em Educação
Professor do Centro de
Formação de Professores – UFRB

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