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APUR INICIA AS COMEMORAÇÕES DE SEUS 10 ANOS COM DEBATE SOBRE AS POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL

 

Dando início às comemorações dos 10 anos da APUR, o Centro de Ciências da Saúde (CCS) foi palco do debate Políticas de Saúde no Brasil – Momento Atual e Perspectivas, na última quinta-feira (27). O debate foi liderado pelo médico sanitarista e docente da UFRB Hêider Aurélio Pinto, e mediado pelo presidente da APUR, David Teixeira.

Para Hêider Pinto, debater as políticas de saúde no Brasil é fundamental, pois não tem como se pensar a formação dos profissionais de saúde sem considerar as políticas de saúde: “Não só porque as políticas de saúde desenham, fazem avançar ou retroceder o Sistema Único de Saúde (SUS), que é o principal espaço de trabalho dos profissionais no Brasil, como também as políticas de saúde interferem no setor privado. Então, ter essa consciência, debater isso, o que está sendo esperado das profissões de saúde, quais são os grandes desafios, que mercado de trabalho é esse que os profissionais vão encontrar, qual o modelo de atenção, que formação e competência os profissionais, os estudantes precisam desenvolver para eles serem profissionais que atuem da maneira mais afeita aos princípios éticos, de qualidade, de uma atenção à saúde que efetivamente cuide das pessoas são temas que são fundamentais”, defendeu Hêider.

Por estarmos em ano de eleição, não tinha como não refletirmos o que os candidatos à presidência do Brasil pensam para a saúde. Hêider Pinto explicou que vem estudando os planos de governo dos candidatos. Um ponto comum que o professor conseguiu visualizar foi a ideia de fortalecimento da atenção básica. “Mas esse da importância à atenção básica, digamos assim, do espectro da esquerda até a direita, do Boulos até o programa ali da Marina, então, portanto, passando pelo programa do Haddad e pelo programa do Ciro Gomes, tem uma defesa enfática da política de atenção básica. Já no programa do Alckmin, já aparecem coisas como a mudança do modelo que é o modelo recomendado pela OMS, e que é adotado desde a década de 90, da estratégia de saúde da família, já começa a trazer algumas coisas que, na minha avaliação, não funcionaram bem na cidade de São Paulo, que tenta copiar um pouco o modelo dos Estados Unidos, que é mais caro e menos resolutivo que modelos, por exemplo, de países como a Inglaterra, o Canadá, a Austrália, a Espanha, então um modelo que já desde partida tem os médicos especialistas”, afirmou Hêider.

Dando continuidade à sua avaliação, o professor Hêider explicou que o modelo proposto pelo candidato Bolsonaro tem um equívoco muito maior, porque reproduz uma política que no mundo inteiro não deu certo: “No Brasil teve uma experiência em 1974, na ditadura militar, que foi uma das responsáveis por ter quebrado o sistema de previdência à assistência social na década de 70, e ter gerado a crise da previdência na virada dos 70 para os anos 80; que é um modelo que facilita a corrupção, que facilita a fraude, porque é um modelo que descredencia os médicos, as clínicas privadas para elas poderem atender sem controle e sem regulação”, disse o professor.

Hêider ainda colocou que as discussões são mais gerais em torno do SUS, e que podemos observar uma concordância entre as candidaturas de Boulos, Haddad e Ciro Gomes, quando se fala da defesa do SUS, da importância de vários investimentos na saúde para garantir, na prática, o SUS que está escrito na constituição. Uma afirmação que pode, segundo ele, ser vista com menos ênfase na candidatura de Marina. Na visão de Hêider, a afirmação do SUS no discurso de Henrique Meireles tem uma contradição, “porque ele foi o ministro da fazenda que implantou o teto de gastos que inviabiliza a médio prazo o SUS, fazendo ele perder meio trilhão de reaias nos próximos 18 anos”, explicou ele.

 Completando sua análise, o professor colocou que Alckmin  não faz a defesa do Sistema Único de Saúde, que ele propõe políticas mais focalizadas, o que passa a entender que pode apontar para um SUS que é focalizado e não universal. Amoedo e Bolsonaro defendem que o sistema de saúde tem mais dinheiro do que precisa, o que é contra todos os outros candidatos: “até Meireles diz que o sistema precisa de mais recursos, mas Amoedo e Bolsonaro falam numa privatização muito ampla. No caso de Amoedo, uma privatização de todo o setor secundário e terciário do Sistema Único de Saúde, e no caso de Bolsonaro, uma integração entre o sistema privado e o sistema público, que não é explicado como tal, mas que passa a entender que o sistema público seria desmontado da maneira como ele está  concebido hoje na nossa constituição”, completou o professor.

O professor também falou da importância da APUR promover o debate de um tema tão relevante, comemorando seu aniversário com uma atividade aberta, franca, dialógica com a comunidade acadêmica, “fazer debates centrais nesse momento importante  para a população brasileira, quando os rumos do país estão sendo pensados é um elemento muito importante porque, este ano, por exemplo, dado o contexto nacional, dado o atual desmonte do Sistema Único de Saúde que vem acontecendo, é um momento central de definir o futuro, ou de seguir nessa perspectiva do desmonte do SUS, ou das políticas de saúde como direito das pessoas e dever do Estado. Então, fazer esse debate foi um acerto muito grande, não só pelo debate em sim, mas também para chamar a atenção de todos os professores, servidores e estudantes da importância do espaço da universidade ser um espaço de construção de cidadania, de cidadania ativa, um espaço de desenvolvimento humano. Isso foi muito importante, eu quero parabenizar as lideranças e a direção da APUR”, finalizou Hêider Pinto.

A atividade contou com uma boa participação dos/as docentes do CCS, demonstrando não somente a importância de se debater as políticas de saúde do país, mas também de estarmos comemorando os 10 anos de luta de nossa associação. Após o debate, os presentes puderam se deliciar com um saboroso caruru. As atividades dos 10 anos da APUR estão apenas começando, em breve estaremos comemorando nos demais centros de ensino da UFRB.

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