Commodity, Container & Educação
O entendimento comum da palavra Commodity ou do seu plural Commodities é simples, e representa a ideia de mercadoria. O conceito, na sua apropriação mais simplista, nos revela que estas mercadorias são fungíveis, ou seja: mercadorias que podem ser trocadas por uma outra independente de quem a produz. Portanto, trata-se de bens móveis cujas características são comparáveis em valor – determinado pelo mercado – e não em qualidade; assim, são bens substituíveis, por uma outra mercadoria cuja essência pode vir a ter o mesmo significado, mas, não necessariamente, o mesmo valor capital ou cultural. Os serviços na globalizada sociedade Neoliberal são commodities, transacionadas por um mercado que busca estabelecer padrões comuns de consumo e, que poderia reescrever uma máxima: “digas, o que consome e onde consome e te direi quem tú és”. Essa readaptação do dito popular, segregacionista, reserva este mesmo significado para este consumidor, cuja grife do que e onde consome, o estratifica na sociedade, colocando-o em posições econômica ou culturalmente hierarquizadas. Assim, passamos a compreender que determinados bens e serviços, deixam de expressar a experiência e o valor cultural de uma dada sociedade. Esta relação entre os commodities e os serviços interessa a todos nós, pois resvala na forma como apreendemos e compreendemos a importância de dados serviços para a nossa sociedade, assim sendo, ao pensar a educação superior e a importância desta para o desenvolvimento social, questionamos este atributo neoliberal que a classifica como Commodity. Mas onde colocar estas commodities? Em Contêineres, responderiam aqueles que compreendem a educação superior como uma mercadoria fungível, cuja qualidade será expressa na grife de quem fornece o serviço. O container pode ser compreendido como uma caixa de metal utilizada para o transporte de mercadorias preservando as qualidades e características das mesmas ou, como um objeto que contém outros objetos que podem ser removidos de forma dinâmica. Em ambas interpretações trata-se de algo que reserva mercadorias e busca preservar suas características. A educação superior, na moderna intervenção neoliberal, é uma mercadoria que contém outras e busca preservar as características intangíveis do capital cultural e científico que a constrói. Seus servidores da educação e discentes são operários de um bem que se ergue na valoração dos saberes e dos fazeres sistematizados, logo de experiências que se constroem no convívio teórico e prático em torno de uma área do conhecimento ou ciência. Mas porque reservá-las em Contêineres? Seria simples responder, contudo, não partilho dos princípios neoliberais que estabelecem a educação superior como uma mercadoria/commodity, que necessita de caixas de metal para se fazer existir e valer. A crítica que se estabelece não é somente a estrutura física que destrói a paisagem local e atribui novas leituras aos espaços da universidade, nos fazendo lembrar do cais de um porto acumulando mercadorias para a exportação e a espera dos estivadores da educação. Mas, ao significado simbólico que se estabelece, desnudando: a fragilidade da interiorização, o valor atribuído aos nossos saberes, a importância do produto que aqui se faz e produz e; à grife do nosso ato de certificar os egressos da nossa instituição. Cabe uma reflexão para que não sejamos vistos como “enlatados”, cujas decisões e atuações poderão materializar estigmas que demarcarão nossa existência para o extramuros da nossa universidade. Brasil.
Pátria Educadora!
José Raimundo de J Santos
Docente UFRB