A data 20 de Novembro, dia da Consciência Negra, foi instaurada pelo movimento negro brasileiro, e deve ser refletida, rememorada por todos nós. E quando falamos de consciência negra, trazemos para o centro do debate um princípio importante de politização da data, que é o combate ao racismo e todas as formas de discriminação que se abate sobre as populações negras, especialmente sobre mulheres negras e jovens negros.
Os últimos dados do IBGE, de novembro de 2019, sobre as “desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil”, apontam que, no combate às desigualdades existentes no Brasil, a questão racial ocupa um lugar central em relação com o processo de desenvolvimento ao longo da história.
São tantos os enfrentamentos que o povo negro vem travando ao longo da história, que a data, mesmo que importante, perde muito de seu tom comemorativo, se tornando mais um dia de denúncia às violências que a população negra sofre no Brasil.
Como exemplo, trazemos a notícia que foi divulgada, no dia 13/11/2019, por várias mídias brasileiras, pela primeira vez, negros são maioria no ensino superior público, esta notícia contrasta com uma outra divulgada no mesmo dia, sobre o adolescente negro Lucas Eduardo Martins dos Santos, de 14 anos, que saiu para comprar um refrigerante, e não voltou.
Familiares e vizinhos culpam a PM pelo sumiço. A madrasta conta ter ouvido, de dentro de casa, Lucas dizer “eu moro aqui” para alguém. Quando ela saiu, viu uma viatura da PM deixando o local. Para ela, o enteado estava dentro do carro. Depois disso, Lucas não foi visto mais. Certa ou errada, o fato é que a cúpula da PM afastou dois PMs do trabalho nas ruas por suspeita de envolvimento no caso.
Na manhã do dia 15/11/2019, um corpo foi encontrado em um lago, e a suspeita é de que o seja o de Lucas, mas como a família divergiu sobre ser ou não o menino, um exame de DNA terá que ser feito. Enquanto isso, a comunidade e a família de Lucas exigem saber o que foi feito dele. Enquanto isso, a população negra, mais uma vez, se vê na necessidade de reivindicar o direito à vida.
Infelizmente, esse não é um caso isolado, não é uma fatalidade. Não vamos esquecer o caso de Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, que foi morta com um tiro nas costas quando voltava para casa com a mãe, no dia 20 de setembro. Ou ainda o caso do músico Evaldo Rosa dos Santos, que foi morto ao ter o carro alvejado com mais de 80 tiros, no dia 7 abril. E esses são apenas alguns exemplos para mostrar como tem sido 2019. Vítimas negras, policiais envolvidos. Coincidência? Ou será que Elza Soares tem razão ao cantar “a carne mais barata do mercado é a carne negra, que vai de graça pro presídio, e para debaixo do plástico”?
A consciência negra é um processo de recusa à naturalização e internalização de todos os tipos de violências que o racismo apregoa, a consciência negra sustenta a resistência a todos os processos de violência, de inferiorização, de exclusão, de genocídio que a população negra sofre, e por isso, não apenas neste 20 de novembro, mas em todos os dias, queremos vociferar aos quatro ventos que Vidas Negras Importam!