Antonio Eduardo Alves de Oliveira
A posição periférica e a fraqueza do aparato de saúde pública para enfrentar a pandemia coronavírus implicarão em dificuldades ainda maiores na América Latina do que nos países desenvolvidos. Segundo previsões da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e do Banco Mundial, a região terá uma queda vertiginosa no PIB, com o aumento formidável da pobreza e da extrema pobreza.
Em relatório sobre o crescimento econômico na região da América Latina e Caribe (ALC), publicado no dia 12 de abril, o Banco Mundial indica que os efeitos combinados da pandemia coronavírus e da recessão mundial serão devastadores na região. O Produto Interno Bruto na região da América Latina e Caribe (excluindo Venezuela) tem a tendência a diminuir 4.6% em 2020.
Segundo o relatório, “A pandemia de Coronavírus está contribuído para um grande choque do lado da oferta. A demanda da China e dos países do G7 deverá cair drasticamente, afetando os exportadores de matérias-primas da América do Sul e os exportadores de serviços e bens manufaturados da América Central e Caribe. O colapso do turismo terá impacto severo em alguns países do Caribe.”.
Por sua vez, a CEPAL apresenta conclusões também negativas no documento intitulado “América Latina e Caribe em face da pandemia do COVID-19. Efeitos econômicos e sociais”. Um dos elementos principais da crise econômica na América Latina é o crescimento cada vez mais acentuado da dependência em relação aos grandes centros econômicos.
A CEPAL informa que “a diminuição da atividade econômica de seus principais parceiros comerciais, uma vez que o volume e o valor das exportações serão reduzidos pela recessão global, à qual será adicionada a queda nos preços de produtos primários.”.
A redução do preço do petróleo de mais 25 % do valor do barril, devido à crise entre países produtores a Rússia e a Arábia Saudita, produz um forte impacto em economias como Brasil, México e Venezuela.
Por sua vez, o colapso do setor do turismo tem um impacto em todo continente, mas especialmente em países da região do Caribe, incluindo Bahamas, Barbados, Cuba, Haiti, Jamaica e República Dominicana, os mais afetados com uma contração significativa no setor.
A diminuição drástica da economia na América Latina é a decorrência direta da queda nos preços de matérias-primas (soja, óleo, minerais e outros) que formam a pauta das exportações latino-americanas. Estima-se uma queda de pelo menos 10,7% no valor das exportações da região em 2020, bem como uma contração de 8,2% no preço e 2 , 5% no volume de produtos exportados.
A recessão e a queda no comércio mundial, agravados pelas guerras econômicas entre os Estados Unidos e a China, acentuaram a fuga de capitais dos países imperialistas. Além disso, a tradicional rapina dos recursos naturais e o peso liquidante das dívidas externas aprofundam a opressão nacional dos países latino americanos.
Na economia dos países, as medidas de distanciamento social e quarentena com fechamento total ou parcial do comércio, dos transportes e dos serviços acarretam profundas dificuldades sociais. Na América Latina, essa situação é ainda mais dramática, uma vez que nos últimos anos já existe um aumento do desemprego e a diminuição do emprego formal e, portanto, as atividades informais representam 53 % de emprego na região, sendo que com a ausência do contato interpessoal acarreta a completa interrupção da renda familiar.
A CEPAL estima que a crise provocada pela pandemia coronavírus levará à perda de renda de 5,0% da população economicamente ativa, a pobreza poderá aumentar em 3,5% e a pobreza extrema em 2,0%, o que implica que dezenas de milhões de pessoas submergiriam completamente sem ter as condições básicas para continuar a viver.
Analisando os impactos sociais, o estudo da CEPAL aponta que, com o aumento das taxas de pobreza e extrema pobreza, a persistência das desigualdades tende a provocar um agravamento ainda maior da crise econômica na América Latina, que já se manifestava anteriormente a crise sanitária de 2020. Por sinal, a fragilidade dos governos no enfrentamento dos efeitos da pandemia do coronavírus é uma manifestação, ou melhor, uma expressão da estrutura social injusta na América Latina:
“A maioria dos países da região é caracterizada por sistemas de saúde fracos e fragmentados, que não garantem o acesso universal necessário para enfrentar a crise de saúde do COVID-19 (…) os sistemas permanecem segregados e claramente desiguais, oferecendo serviços de qualidade diferente para diferentes grupos populacionais (…) as instalações são insuficientes para o nível esperado de demanda e dependem amplamente das importações de equipamentos e suprimentos”, resumiu o relatório.
Além disso, o documento da CEPAL sublinha que “os sistemas de saúde em vários países já estavam sob pressão da epidemia de dengue, porque no ano passado mais de três milhões de pessoas foram infectadas, um número recorde e 1.538 pessoas morreram pela doença.”.
A crise sanitária provocada pela pandemia coronavírus tem um efeito extremamente negativo na região. Essa situação tem os contornos tenebrosos porque a maioria dos países não investiu efetivamente na saúde. Isso é demonstrado pelo fato de que os gastos públicos no setor representam 2,2% do PIB regional, bem distante dos 6,0% recomendados pela Organização Pan-Americana da Saúde.
A estrutura da saúde vem se deteriorando no mundo, e na América Latina em particular, os sistemas de saúde pública foram desmantelados deliberadamente, o que explica o aumento das dificuldades para o tratamento dos afetados pelo coronavírus.
A deficiência do sistema de saúde nos países na região não é fruto do acaso, o retorno da direita aos governos, através de fraudes eleitorais e golpes de Estado, levou a uma completa regressão social devido a aplicação de uma severa e criminosa política de ajuste e austeridade. Diminuir os “custos” tem um alto custo social: mortes, sofrimentos e aumento da pobreza na América Latina.