Na última reunião Conjunta dos Setores das IFES e das IEES/IMES, realizada online, no dia 17 de abril, a diretoria do Andes, com a complacência dos dirigentes da oposição, sacramentaram a nulidade política do sindicato nacional diante da falência do governo Bolsonaro e do agravamento da crise sanitária e econômica no país.
Para justificar a completa falta de mobilização e a ausência de uma política independente a diretoria do Andes, apoiada na carência de uma crítica efetiva da oposição oficial, atribuiu como posição do sindicato uma palavra de ordem completamente vazia e oca: “Basta Bolsonaro e Mourão! E a luta pela vida!”.
Do ponto de vista formal, a defesa de “Basta Bolsonaro e Mourão! E a luta pela vida!” parece uma consigna “radical”, mas, na verdade, ela não diz nada sobre qual a posição do sindicato diante do governo Bolsonaro. Naturalmente, que dizer “Basta” alguma coisa significa uma rejeição, entretanto, não indica quais as coordenadas políticas dessa rejeição.
Setores importantes da imprensa capitalista como a Globo, a Folha de São Paulo e até mesmo veículos representantes de setores mais conservadores como o Estadão e a Veja também apresentam em suas reportagens variadas gradações de “Basta” de governo Bolsonaro. Na maioria das vezes, inclusive, são mais contundentes do que a exposta pela diretoria do Andes.
“Basta Bolsonaro” da diretoria do Andes é medo de aderir ao “Fora Bolsonaro”
De fato, esperar alguma coisa politicamente relevante de uma diretoria sindical insonsa, que tem como característica principal a ausência de qualquer ação combativa durante seu mandato, é irrealista, ainda mais em uma gestão em fim de mandato.
De qualquer forma, é preciso salientar que não estamos vivenciando uma crise qualquer, mas um contexto extremamente complexo, com a grande maioria das entidades sindicais e os partidos de esquerda sucumbindo de maneira vexatória ao apelo para “unidade nacional” com a direita golpista.
Assim, estamos vendo o burlesco espetáculo de sindicatos fechando suas portas e emprestando sua estrutura para governos de direita em nome da “solidariedade”, parlamentares do PCdoB, do PT e mesmo do “esquerdista” PSOL elogiando Mandetta, apoiando governos da extrema direita como Caiado, Dória e Witzel em nome da “vida”.
Ao passo que a propagação da pandemia covid-19 se alastra e o governo Bolsonaro intensifica seus ataques contra o povo, cada vez mais setores da esquerda reformista (PT) e da esquerda pequeno-burguesa (PSOL, PSTU, PCB) são pressionados a adotar o “Fora Bolsonaro”. Dessa forma, pelo menos formalmente, a CUT, dezenas de sindicatos no país, a Frente Povo sem Medo e a Frente Popular estão acompanhando a defesa do fim do governo Bolsonaro.
Curiosamente, a diretoria do Andes procura se esquivar dessa pressão apresentando o expediente do “basta Bolsonaro”, justamente para não defender o “Fora Bolsonaro”. Assim, ao invés de defender o “Fora Bolsonaro”, prefere não se colocar concretamente sobre a luta pela derrubada do governo da extrema-direita. Isso apesar da diretoria do Andes ser constituída por correntes do PSOL e do PCB que, pelos menos nas notas publicadas nas redes sociais, seriam favoráveis ao Fora Bolsonaro.
Diga-se de passagem, o truque de “basta” “abaixo” “nem e nem” é tradicional do centrista- sectário da esquerda pequeno-burguesa, que deseja manter as aparências de “revolucionário” sem se comprometer com uma política mais resoluta.
Apesar de parecerem valentes e radicais, geralmente, os representantes da esquerda pequeno-burguesa, especialmente no Andes, são no fundo extremamente pusilânimes e inseguros. A tradicional gritaria e acusações sectárias dirigidas a quem aponta suas inconsistências serve para ocultar uma profunda fraqueza política. O Basta Bolsonaro nada mais é do que uma insegurança de defender o Fora Bolsonaro.
Uma digressão histórica: Do “Basta Dilma “ao “Fora todos”
Para ilustrar o papel do “Basta” em uma outra situação, vou pedir paciência do leitor, e farei uma breve digressão histórica, analisando o ano de 2015.
Naquela ocasião, é sempre bom lembrar, a diretoria do Andes tinha o PSTU na diretoria e seguia disfarçadamente a política dele. Enquanto a direita organizava o golpe contra o governo eleito de Dilma, a diretoria do Andes elegeu como principal adversário o PT, fazendo na prática uma frente unitária com a direita reacionária.
Um mecanismo era usar o método oportunista do esconde e esconde da esquerda pequeno-burguesa, de tal modo, adotava-se a mesma política, mas com outras palavras, usando consignas mais atenuadas da CSP- Conlutas, mas que no fundo tinha o mesmo sentido.
Para colocar em funcionamento as engrenagens do golpe de Estado, a direita golpista precisava de uma aparência de “apoio popular” pelo “Fora Dilma, Fora PT”, assim, foram financiadas “manifestações” dos coxinhas, fartamente convocadas pela imprensa capitalista. A esquerda, depois de muita vacilação, organizou manifestações “Não vai ter golpe” que suplantaram as organizadas pelos coxinhas. Pois bem, neste contexto, no meio da greve dos docentes, a diretoria do Andes financia o “terceiro campo”, ou seja, os atos organizados pela CSP/PSTU que defendia o “basta Dilma”, que era forma atenuada do “Fora Dilma”.
Quando questionada essa política, a diretoria do Andes, ainda senhora de si, pois se apoiava na campanha burguesa da imprensa contra Dilma e o PT, dava a resposta que não havia literalmente a palavra de ordem “Fora Dilma”, mas outras como o “basta”, que poderia significar tão somente um questionamento da política sem necessariamente significar o “Fora”.
Naturalmente, a “argumentação” da diretoria do Andes era uma fraude, e os recursos do sindicato serviram para alimentar a política que impulsionou o golpe contra Dilma. Em perspectiva, não importa se de maneira inconsciente ou não, os desdobramentos políticos das escolhas da esquerda pequeno-burguesa que controlava o Andes favoreceram a direita golpista.
Acontece que, posteriormente, na medida em que o processo de impeachment progredia e que o golpe ia sendo consumado, o PSTU intensificou a campanha pela queda do governo Dilma, passando a defender abertamente o Fora Dilma e “Fora todos”. O que pese a justificativa do PSTU que não havia golpe algum, o posicionamento pelo Fora Dilma provocou um cataclismo, levando a implosão do partido morenista.
A explicitação da política sectária do PSTU como uma política golpista levou a exasperação os colegas da esquerda pequeno-burguesa na diretoria do Andes, que tiveram de buscar pelo menos um distanciamento formal do PSTU (retiraram da chapa da diretoria) e não aprovaram o Fora todos no Andes, o que pese a manutenção dos parâmetros da política do PSTU negando o golpe e se recusando a lutar contra o impeachment.
Como descrito, o “Basta Dilma” serviu para escamotear que a política era o “Fora Dilma”. O “Basta” era um eufemismo para permitir uma frente política com a direita. Por sua vez, o “Basta Bolsonaro” representa aparentar um “Fora Bolsonaro”, mas no fundo significa não adotar uma política de poder diante da crise do governo.
Romper a paralisia imposta ao sindicato nacional. O Andes deve lutar pelo Fora Bolsonaro
Mesmo com toda a crise política, com a escalada autoritária e genocida de Bolsonaro e apesar da quase totalidade dos partidos e agrupamentos que atuam no movimento docente se posicionarem pelo Fora Bolsonaro, mesmo com o crescimento da insatisfação e repúdio dos docentes de norte a sul do país, por que a diretoria do Andes não chama o “Fora Bolsonaro”?
Quantos direitos mais precisarão ser vilipendiados? Quantas mais mortes pela política de Bolsonaro serão precisas para que a diretoria do Andes (e os agrupamentos que a compõe) abandone a posição de inércia e colocarão o sindicato nacional na luta pelo “Fora Bolsonaro”?
Em todos os momentos de acirramento político, a diretoria do Andes adota uma posição vacilante, que invariavelmente leva o sindicato a paralisia. Sendo que em muitas oportunidades, como na época do impeachment de Dilma, favorece nitidamente a direita.
Uma falácia usada é que a diretoria segue o que é aprovada nas “instâncias do sindicato”, mas então qual política os delegados vinculados aos agrupamentos que compõe a diretoria do Andes e as seções sindicais levam para deliberação?
Reformulando a pergunta, por que diabos as “instâncias do Andes” não aprovaram até agora o “Fora Bolsonaro”?
O Congresso e Conad do Andes deveriam servir para armar a categoria, mas na prática têm funcionado como diques de contenção, como uma barreira legal burocrática montada pelas correntes majoritárias que dirigem a entidade para impedir um questionamento da desastrada política da esquerda pequeno-burguesa no Andes.
A ausência de um posicionamento político pelo Fora Bolsonaro no Andes é mais um exemplo de como a política das direções nos encontros da entidade serviu para desarmar os docentes na luta contra o governo da extrema direita.
Em dois Congressos (38 º e 39 º) e em um Conad (64 º), apesar do amplo conhecimento de quem é Bolsonaro, do que ele representa e do esquema fraudulento que o levou à presidência da República, não foi aprovada como “centralidade da luta” do sindicato o Fora Bolsonaro. Discutiu-se e aprovou-se de tudo, mas negligenciou-se o mais importante.
No 64 º Conad, realizado em Brasília, foi um exemplo marcante dessa limitação, pois, apesar dos ataques contra as universidades, através dos cortes de verbas, escola sem partido e do Future-se, apesar da aprovação da Reforma da Previdência (na ocasião apenas do 1 º turno) e do aumento da violência contra os movimentos sociais na cidade e no campo, não foi aprovado o Fora Bolsonaro. Uma capitulação histórica, sendo importante registrar que a diretoria do Andes não estava só, pois a ampla maioria das seções sindicais (inclusive as da oposição) recusou a luta pelo Fora Bolsonaro.
Por sua vez, o 39º Congresso do Andes-Sindicato Nacional, realizado entre os dias 04 e 08 de fevereiro de 2020, com mais de 680 participantes, também não indicou uma luta consistente contra Bolsonaro. A disputa posterior por diferentes balanços sobre 39º CONGRESSO representou uma cortina de fumaça, pois nenhum setor apresentou uma crítica efetiva à ausência do Fora Bolsonaro nas resoluções.
Em síntese, o sindicato tem que ser um instrumento de luta da categoria em todos os terrenos. Uma questão essencial, sobretudo no momento como esse, é necessário mais do que nunca que o Andes tenha um claro posicionamento político diante da luta pelo poder.
A palavra de ordem de “Basta Bolsonaro e Mourão! E a luta pela vida!”, como já foi salientado, é tão somente uma fuga, não indica uma alternativa política.
É preciso uma nova política no movimento docente. Para tanto, um obstáculo a ser superado é o imobilismo imposto pela política da diretoria do Andes e o centrismo da oposição. A tarefa é construir no Andes uma luta independente pelo Fora Bolsonaro e todos os golpistas, por eleições gerais.