Nesta terça-feira (28), os/as docentes do Centro de Ciência da Saúde (CCS) se reunirem virtualmente para uma conversa sobre a conjuntura de combate à Covid-19, a crise política nacional e as questões que envolvem mais diretamente os/as professores/as, como o corte de auxílios e as condições de saúde e trabalho durante a pandemia.
A reunião do CCS teve um diferencial por se tratar de um centro que tem professores que estão na linha de frente das ações de combate ao coronavírus, que fazem parte do Comitê de Acompanhamento e Enfrentamento a COVID-19 da UFRB. Na reunião, foi informado que o comitê tem realizado vários trabalhos como, por exemplo, a produção de álcool gel no CFP e capacete/protetor facial no CETENS e que o CCS em breve poderá ser usado como laboratório de testagem.
Saber das ações que o comitê está realizando apenas reforça que os/as professores/as da UFRB não estão inertes diante da situação adversa que o país está enfrentando, já que também fazem parte do comitê, todavia, ainda persiste a ideia de que não estão produzindo no momento do isolamento social, aumentando cada dia mais a pressão sobre uma possível redução de salários.
A professora Djenane Brasil pontuou que há uma necessidade de pensar sobre o que os/as professores/as estão fazendo em casa, e de como chegaram a essa condição. “Qual a natureza do nosso trabalho? Nossas funções vão além de dar aula. Professor não é “aulista” e nem horista. Tem uma série de atividades que o professor desenvolve que não necessariamente envolvem o momento em que está diretamente com os alunos. Muitas atribuições fazem parte do fazer docente”, completou a professora.
Ainda sobre a noção de que mesmo fora de aula o trabalho docente continua, falou-se de que tem havido um excesso de reuniões virtuais, o que também demanda tempo e organização; e que ainda estão tendo que dar conta de fazer projetos, submeter propostas de trabalho, já que os prazos dos editais continuam.
O professor Givanildo Oliveira lembrou que não tem como todos os professores estarem envolvidos nas mesmas ações, pois os/as docentes possuem perfis diferentes “Muito de nossos trabalhos estão realmente paralisados. Mas precisa ter em mente o porquê estamos em casa, para assim podermos reagir. Não estamos em casa de férias, estamos por uma questão de contingência. Alguns vão poder participar mais, mas nem todos poderão se envolver da mesma forma. A gente está em casa, mas nossas despesas não diminuíram. Então, é importante reconhecer por qual motivo estamos em casa e por que nossos salários precisam ser mantidos, nossas despesas não mudaram”, defendeu Givanildo.
A constante ameaça de corte de salários dos servidores públicos só mostra que o governo continua seguindo a rota de precarização dos serviços públicos, usando a pandemia como argumento para a destruição do estado e dos serviços essenciais à população, como podemos observar nas precárias condições de trabalho e baixo investimento na ciência, educação, tecnologia e saúde, em especial com sucateamento do SUS. Vale lembrar que as universidades públicas precisam continuar fazendo pesquisa, ainda mais num momento como este em que a busca por uma vacina contra a Covid-19 se faz urgente, mas que os recursos continuam os mesmos. A universidade continua com os recursos contingenciados.
Assim como nas reuniões sindicais de outros centros, surgiu a discussão das aulas virtuais. Uma questão interessante que foi colocada foi o cuidado na utilização dos termos Educação à Distância (EAD), pois uma coisa é pensar em como usar a internet como aliada, outra coisa diferente usar uma modalidade de ensino como única ou principal forma de promover a formação discente. No caso da área de saúde esse problema se grava, já que as diretrizes curriculares nacionais dos cursos limitam esse tipo de ensino, e há um conjunto robusto de atividades práticas, que não podem ser realizadas na modalidade EAD ou de modo virtual.
A verdade é que os/as docentes terão que pensar e discutir muito qual será o melhor caminho a seguir, e muitas são as questões envolvidas. É preciso construir um retorno que não precarize ainda mais as condições de trabalho docente, ao mesmo tempo em que não prejudique o processo de aprendizagem dos estudantes. A relação entre o ensino e a aprendizagem não pode ser perdida de vista. Enquanto o retorno à normalidade não é possível, os/as professores/as também se mostraram preocupados/as com a fragilidade dos estudantes, e estão pensando estratégias para manter os vínculos, a fim de que os estudantes continuem se sentindo como pertencentes à universidade.
Por fim, por sugestão do professor David Teixeira, presidente da APUR, apresentou-se um indicativo de reuniões virtuais quinzenais, que foi acolhido. Nessas reuniões, além de reencontrar os colegas (virtualmente), o que torna os encontros bastante proveitosos e traz satisfação aos docentes, abre-se espaço para a manutenção da sanidade em tempos tão sombrios.