No dia 13 de maio de 2018 faço uma reflexão que nas minhas pesquisas denomino de apropriação e disputa ideológica pelo estado e movimentos negros no Brasil no contexto da data de 13 de maio. (SILVA, 2005).
Destaco o 13 de Maio porque se trata de uma data emblemática que se torna posteriormente ao ano 1888 um instrumento de disputa ideológica entre o Estado, o movimento abolicionista e os movimentos negros no Brasil.
No Brasil no período pós-abolição a data 13 de Maio era comemorada com grandes mobilizações, em vários espaços sociais, institucionais ou não, atitude que se alterou radicalmente nos anos 70. A partir de então, os movimentos negros passaram a destacar o 20 de Novembro, dia dedicado ao líder Zumbi dos Palmares, como a data mais significativa para a comunidade negra. Segundo Célia Maria de Azevedo, “Zumbi ganhou vida à medida que os movimentos negros contra o racismo conquistaram espaço no cenário social, resgatando do esquecimento a figura de um líder escravo que ousara dizer não à escravidão que lhe fora imposta pelo poder branco” (Azevedo, 2004 a, p. 87). Zumbi é então reverenciado como herói pela sua capacidade de governar uma sociedade de resistência ao escravismo, o Quilombo de Palmares, para onde fugiam escravos, índios e até brancos descontentes, e que demonstrou grande estabilidade institucional, tendo resistido por mais de cem anos. Assim, a data 20 de Novembro, destacando a figura guerreira de Zumbi dos Palmares entra no cenário, em substituição ao 13 de Maio que sai de cena juntamente com sua princesa, redentora dos escravos: “a princesa Isabel, e o séqüito de abolicionistas perfumados”, conforme comentário de Célia Marinho de Azevedo (2004 a, p. 87).
A construção de mitos sobre o 13 de Maio é uma das formas pelas quais a dominação ideologia é reproduzida, além do uso de meios coercitivos, pelo convencimento dos considerados “subalternos” da superioridade moral e intelectual dos seus dominadores.
A construção ideológica dessa hegemonia seleciona e utiliza determinados mitos, personagens e versões de fatos que, ao mesmo tempo em que oculta outros fatos menos convenientes, produz um sentimento de inferioridade na população negra. Dessa perspectiva, é que a análise sobre o 13 de Maio se torna de grande valia para estudar e pesquisar o processo ideológico que perpassa a apropriação da memória da abolição momento para se refletir a situação socioeconômica da população negra no Brasil.
Entendo que a memória do 13 de Maio como referência à abolição dos escravizados no Brasil, é disputada ideologicamente ao longo da história pelo estado brasileiro e movimentos sociais negros, nesta perspectiva a data se torna importante símbolo de dominação, por isso defendo que o 13 de maio deva ser repensada numa perspectiva de sua reconstrução histórica e ideológica da historia da população negra no Brasil.
É preciso rever os conceitos e a ideologia da data 13 de Maio, necessário se faz reescrever a história da Abolição como resultado também de um longo processo de lutas dos movimentos negros no Brasil que lutaram e lutam contra o regime escravista e racista do passado, e que no presente também está atuando com uma “roupagem” nova, que de nova não têm nada.
Fátima Aparecida Silva
Docente do CFP
Diretora da APUR
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Abolicionismo Estados Unidos e Brasil:
uma história comparada. São Paulo, Annablume, 2004.
SILVA, Fatima Aparecida. Escola, movimento negro e memória: o 13 de maio em Sorocaba – 1930. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Sorocaba, Sorocaba, 2005.