DOCENTES MUDAM A PAUTA, DENUNCIAM CONDIÇÕES DE TRABALHO E EXIGEM MUDANÇAS.
Os docentes do Centro de Formação de Professores (CFP), em Amargosa, reverteram a pauta da reunião extraordinária do Conselho de Centro, convocada na última terça – feira, 10h, pelo reitor Paulo Gabriel Nacif, e promoveram uma longa e tensa reunião de denúncias sobre as condições de infra estrutura e trabalho no CFP. A princípio, o reitor propunha debater a posição do CFP em relação às políticas públicas de educação do MEC. No entanto, os professores consideraram que o momento era de questionar os compromissos feitos e não cumpridos pela gestão, a evasão de professores, questões de infra estrutura básica, que tem atrapalhado, se não impedido, o desempenho no Centro.
Afirmações como, “o centro pode virar um escolão”, referindo-se a ausência de um projeto consistente de implantação e continuidade das ações políticas e de infra estrutura por parte da gestão, foram ouvidas durante toda reunião. Os professores trouxeram para o debate desde questões simples, mas que estão há muito tempo sem solução, como a falta de reagentes para o curso de química, a falta de livros, até questões mais problemáticas, como a precarização das condições do trabalho docente e a ausência de um centro poliesportivo, já que no CFP funciona o curso de educação física . Em todas as intervenções, deixaram claro que não são contra a expansão e a interiorização das universidades, mas que esse processo tem que ser feito com qualidade e que os docentes sejam contemplados em sua integralidade.
O professor e representante sindical da APUR no CFP, Tarcísio Cordeiro, colocou que, somado a todos os problemas que o Centro enfrenta internamente, os problemas locais, que dizem respeito a uma cidade localizada no interior da Bahia, têm contribuído para um alto índice de evasão, que já chega a 43 docentes. “Eu acredito que a UFRB acertou no momento de propor a criação de um centro de formação de professores, essa experiência é exitosa, contudo, é preciso fazer uma reflexão sobre como essa política tem se dado. Esse processo de construção dos cursos de licenciatura, dos cursos de formação de professores no interior da Bahia, tem passado por um mecanismo de intervenção das políticas do governo federal, e é preciso fazer uma reflexão sobre o que isso tem representado efetivamente nos campos das licenciaturas”, pontuou Tarcísio.
A preocupação com o futuro dos cursos de licenciatura também foi colocada pelo professor Jorge Fernando Menezes. O docente lembrou que o objetivo do centro é formar professores para atuarem no ensino médio, mas que, sem a garantia de um mínimo de formação, os futuros docentes terminam optando por não ensinar: “Como é que eu posso ensinar estratégias a um grupo aonde, por exemplo, a práxis está associada à teoria, se e eu não tenho do meu lado a garantia de que a prática vai existir. O aluno chega em sala e fica sem ação, sem estratégia. Aí eu continuo não garantindo formação docente qualificada, é isso que a gente precisa refletir, porque senão o déficit vai continuar”, afirmou Jorge Fernando.
Quanto à expansão da universidade, Jorge Fernando reconhece que a UFRB não é uma universidade pequena, que ela está aí para crescer, porém o crescimento tem que estar atento ao que já está posto: “Temos planos audaciosos, no entanto, para garantir toda essa demanda, a gente precisa garantir o mínimo. A jornada é longa, mas tem que ser feita passa a passo, a política pública tem que estar atenta a isso. Como construir um prédio, se não garante a base? Eu, como formador de professor, tenho que encantar. Mas como eu encanto se eu estou desencantado? É nessa linha que a gente deve pensar, espero que um debate como esse ganhe força, que a gente fale das nossas demandas, mas que exista a perspectiva dessas angústias se transformarem em coisas concretas, a gente quer o concreto”, disse o professor.
Para o professor Tarcísio, o debate ocorrido foi de suma importância para que se construa um diálogo capaz de pensar coletivamente as soluções. O docente também ressaltou que essa é uma questão que a APUR tem pautado. Uma construção entre estudantes, servidores técnicos e docentes, para construir uma universidade no interior da Bahia: “Nós não podemos construir uma utopia alienada, nós não podemos acreditar que uma reunião como essa vai trazer soluções para todos os problemas imediatamente, mas reuniões como essas modificam a pauta da universidade, colocam questões. Se o reitor nos propunha uma expansão, nós estamos invertendo a pauta e colocando a necessidade da qualificação dos cursos. Esse é um tema caro e importante, acreditamos que, com discussões e manifestações espontâneas como foram as de hoje, a gente possa colocar na pauta a qualidade do ensino superior com inclusão social no Recôncavo da Bahia”, colocou o docente que, junto aos outros, aguarda as soluções da gestão para os problemas mais imediatos.
Aline Sampaio
Assessoria de Comunicação da Associação dos Professores Universitários do Recôncavo (APUR).