DEZ ANOS DA UFRB
Herbert Toledo Martins
Ex-Presidente da APUR
Diretoria da APUR – GESTÃO: APUR PELA BASE
Quando se pensa que existem Universidades com mais de mil anos espalhadas pelo mundo, o fato de estarmos completando apenas dez anos se torna um privilégio. Um privilégio geracional, pois somos os responsáveis pela fundação dos pilares sobre os quais advirão as próximas gerações. Temos em nossas mãos a tarefa de moldar e consolidar os princípios que nos guiará na caminhada rumo ao futuro que queremos tod@s, seja grandioso. Aqui existe a possibilidade concreta de experimentarmos o projeto político de uma Universidade que pensa e constrói a nação brasileira, uma Universidade dos/as trabalhadores/as e para os/as filhos/as dos/as trabalhadores/as e as populações negras e pobres do país. Parto das condições concretas, as quais os dados oficiais confirmam, a nossa comunidade é composta na sua grande maioria por filhos/as da classe trabalhadora, em todos os segmentos. O que não significa claro que os mesmos expressem politicamente as ideias da classe a qual constitui, uma vez que sofrem ação direta na sua formação da ideologia dominante. No entanto, esse conjunto carrega consigo algo comum independente de suas vontades, o que na minha avaliação é determinante, se encontram no mesmo lugar no processo de produção e reprodução da vida, e sofrem das mesmas dores resultantes desta relação de produção. O entendimento disso me provoca alguns questionamentos práticos para aqueles que reivindicam, considerando a matriz capitalista, a melhoria da qualidade de vida dos/as trabalhadores/as: como estamos trabalhando a formação dos/as trabalhadores/as, uma vez que trabalhamos num espaço formal de produção e reprodução ideológica? Como estamos enfrentando a ideologia dominante? Qual tem sido a alteração significativa que estamos promovendo na formação dos/as filhos/as da classe trabalhadora que passa pela UFRB, do ponto de vista da emancipação dos/as trabalhadores/as? Ainda que eu considere importantíssimo o acesso da classe trabalhadora ao ensino superior, à ciência e a tecnologia, pois reconheço que com a elevação do padrão cultural e formação profissional o/a estudante possa promover uma mudança necessária na condição de sobrevivência imediata da sua família, porém avalio que é insuficiente. Desconfio que na sua generalidade, ao sair da UFRB os nossos estudantes saiam mais afastados politicamente da sua classe em si do que quando entraram. A Universidade, neste caso, pode ser espaço de contra hegemonia, de geração de outros modos de pensar, de novos procedimentos e propostas de ensino e pesquisa e de intensa extensão, de modo que os/as trabalhadores/as não seja o ‘público’ escolhido, mas agentes reais de construção e participação. Trata-se, portanto, de construir e gestar uma Universidade cujo projeto auxilie na alteração objetiva das condições de vida dos/as trabalhadores/as. Eis aqui a possibilidade de articular construção da soberania da nação e Universidade. A contribuição da Universidade, neste caso, é a de formar consciências, forjar mentalidades capazes de reagir ao avanço das forças políticas conservadoras da sociedade brasileira, inclusive as que estão no governo, por entender que as ideias e propostas conservadoras não interessam e nem contribuem com a emancipação dos/as trabalhadores/as. Nenhum passo atrás de tudo aquilo que foi conquistado pelos/as trabalhadores/as. A nossa experiência democrática deve ser radical, que os/as nossos/as estudantes apreendam a importância das decisões democráticas e participativas exercendo a mesma no período em que estão na Universidade. Neste sentido, é preciso compreender, por exemplo, que a política de expansão das IFES no Brasil se desenvolve em contradição com as conquistas históricas dos/as trabalhadores/as, ela se dá precarizando as carreiras, atacando a previdência, privatizando e terceirizando serviços, e retirando outros tantos direitos. Esse é o preço para a entrada dos trabalhadores no ensino superior? Que a ideologia liberal do “ajuste fiscal” seja rechaçada em todas as suas manifestações por não interessar aos trabalhadores/as. Assim, as mudanças essenciais na UFRB não podem acontecer isoladas de dentro para fora, sem uma modificação significativa na política econômica externa à Universidade e do seu modelo “mercado imobiliário” de gestão, todas as experiências inclusive as positivas tendem a fracassar por ausência de condições objetivas de implantação e sequência. Não conseguiremos construir uma Universidade de qualidade para os/as trabalhadores/as do Recôncavo da Bahia e do país, com esta política atual e, pior, sem enfrentá-la. Por tudo, reconheço a importância das lutas em defesa da UFRB, hoje representada na luta do movimento docente e da nossa APUR. Não podemos dissociar as lutas formais e pontuais das conquistas essenciais, por isso comemoramos em luta os 10 anos da nossa UFRB, e exigimos a reversão dos cortes no orçamento da Universidade.