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Reflexão – Dia Internacional da Mulher

            O dia Internacional da Mulher, além de ser um dia para parabenizarmos a todas elas, também é um momento ideal para refletirmos a situação destas em nossa sociedade. Não é de hoje que as mulheres vêm lutando por uma sociedade mais justa, o que vem rendendo visíveis resultados. Contudo, não podemos nos esquecer que, mesmo com as conquistas que as mulheres têm conseguido, elas ainda enfrentam grandes problemas em uma sociedade que ainda se mostra machista e misógina. Exemplos disso, entre outros tantos, é a banalização da violência contra a mulher e a desvalorização de seu trabalho.

            Até o final do século 19, as mulheres só podiam estudar até o Ensino Fundamental, porém, por meio da Reforma Leôncio de Carvalho, as mulheres puderam ingressar do Ensino Superior, mas não sem preconceito, enfrentavam pressões e críticas da sociedade que acreditavam que lugar de mulher não era na academia, e sim em casa dando conta dos afazeres domésticos.  O fato é que elas não recuaram e, hoje, são maioria no ensino superior. Segundo o IBGE, em 1996, 55,3% das pessoas que frequentavam estabelecimentos de ensino superior eram mulheres, aumentando para 57,5% em 2006.

            O IBGE também sinalizou que a distribuição de renda no Brasil melhorou, mas que, ainda assim, a desigualdade entre homens e mulheres é significativa. A inserção das mulheres no mercado de trabalho é marcada por preconceito de gênero e de raça. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as diferenças entre homens e mulheres ficam ainda mais perceptíveis quando se combinam as desigualdades: “Além de estarem menos presentes do que os homens no mercado de trabalho, as mulheres ocupam espaços diferenciados e estão sobrerrepresentadas nos trabalhos precários”, concluiu estudo do Ipea.

            As pesquisam mostram que as mulheres ganham menos que os homens, mesmo ocupando funções iguais. Conforme o Censo de 2010, o rendimento médio mensal dos homens com Carteira Profissional assinada foi de R$ 1.392, já o das mulheres foi cerca de 30% abaixo desse número, atingindo R$ 983. Essa situação deixou o Brasil atrás de 79 países em um ranking de 146, organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Já no Índice de Desigualdade de Gênero (IDG), complementar Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de 2011, mostrou o Brasil na 80ª posição, atrás do Chile, Argentina, Peru, México, Venezuela, Líbia, Líbano e Kuwait.

            Outro ponto que mostra as desigualdades enfrentadas pelas mulheres é a violência. Conforme Julio Jacobo Waiselfisz (2012), no Brasil, de 1980 a 2010, foram assassinadas acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país.

            A Bahia ocupava, em 2010, a 6ª posição, com 433 homicídios femininos. Os municípios baianos que mais registraram casos de homicídios femininos foram Porto Seguro e Simões Filho, com 63. 440 e 60.030 respectivamente. Esses números colocaram esses municípios nas 3ª e 4ª posições em todo o país.

            Esses números ficam ainda mais assustadores quando ficamos sabendo que, na maioria dos casos de violência contra mulheres, os agressores são pessoas bem próximas a elas. Ainda segundo Waiselfisz, geralmente, os feminicídios acontecem no âmbito doméstico. No caso do Brasil, verifica-se que 68,8% dos atendimentos a mulheres vítimas de violência, a ocorrência se deu na casa da vítima. Em 42,5% do total de agressões, o agressor é o parceiro ou ex-parceiro. Esse número aumenta para mais de 65% nos casos em que a vítima tem de 20 a 49 anos. Dentre 84 países pesquisados, o Brasil, com a taxa de 4,4 homicídios para cada 100 mil mulheres, ocupa a 7ª posição, mostrando ser um país com elevados índices de feminicídio.

            Desigualdade, violência contra mulheres, tudo isso é muito forte. Contudo, o que mais nos chama a atenção numa data como o 8 de março, é a capacidade de luta que as mulheres sempre vêm demonstrando.  As mudanças ocorridas na lei, na economia, na educação, não são benefícios dados por nossos representantes, são frutos de uma luta que não para, de gritos constantes de basta. Estamos percebendo a cada dia que as mulheres, enfim, tomaram posse do que é seu, não mais se conformam com as posições subalternas que a sociedade sempre lhes reservou.

            Para além de sentimentos partidários, termos um país como o Brasil governado por uma mulher, é um marco na história de lutas das mulheres que, até 1932, sequer podiam votar. O número de mulheres na política tem aumentado cada dia: 11 senadoras, 47 deputadas e 2 governadoras. Obviamente, um número pequeno se pensarmos que as mulheres somam 52% do total de eleitores, mas um grande avanço se levarmos em conta que essas mulheres estão indo de encontro ao que a sociedade lhes impunha como natural, cuidar dos afazeres domésticos e da família.

            Cada vez mais as mulheres tem ido a público reivindicar seus direitos. Temos visto na mídia uma explosão de atos encabeçados por mulheres dizendo não a todo tipo de preconceito e de violência. A Marcha Mundial das Mulheres, por exemplo, foi criada em 2000 a partir de uma grande mobilização que reuniu mulheres do mundo todo em uma campanha contra a pobreza e a violência. As atividades tiverem início em 8 de março e terminaram em 17 de outubro. As atividades foram organizadas de acordo com o chamado “2000 razões para marchar contra a pobreza e a violência sexista”.

            No Brasil, um momento marcante da Marcha Mundial das Mulheres se deu entre os dias 8 e 18 de março de 2010, organizada em formato de marcha, percorrendo o trajeto entre as cidades de Campinas e São Paulo.  Cerca de três mil mulheres de todos os estados em que a Marcha está presente, reuniram-se em atividades de denúncia, reivindicação e formação: “Reunindo mulheres rurais, urbanas, indígenas, negras, brancas, jovens, adultas, lésbicas, bissexuais e heterossexuais auto-organizadas, a 3ª Ação da Marcha Mundial das Mulheres representou um marco definitivo para o movimento feminista no Brasil”, afirmam em texto no site oficial da Marcha. (http://marchamulheres.wordpress.com/mmm/)

            Com o lema “Nem Santa, nem Puta: Mulher” surge em 2011 a Marcha das Vadias. O movimento surgiu a partir de um protesto no dia 03 de abril de 2011 na cidade de Toronto, no Canadá, e ganhou força em várias partes do mundo. A Marcha das Vadias protesta contra a ideia de que as mulheres que são vítimas de estupro pediram isso devido às roupas que usam. No Brasil, a Marcha das Vadias já ocorreu em São Paulo, Vitória, Recife, Fortaleza, Salvador, Goiânia, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, João Pessoa, Campina Grande, Santa Maria, Londrina, São José do Rio Preto, Cuiabá, entre outras.

            Muitos são os exemplos do empenho das mulheres na luta pelos seus direitos, sejam eles políticos, econômicos, ou, simplesmente, pelo direito ao próprio corpo. Lutar também virou um sinônimo de mulher, e a participação sindical também é uma maneira de reivindicar aquilo que lhe pertence. Durante a greve dos professores universitários do ano passado, pudemos ver muitas companheiras lutando pelos direitos dos docentes do ensino superior. Na APUR, o número de filiadas chega a 104. A seção sindical sede do ANDS, por exemplo, é presidida por uma mulher, a Marinalva Silva Oliveira. Sem dúvida, todos esses movimentos afirmam uníssonos que Lugar de mulher é na luta.

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