Em 2016 foi dado um golpe de estado no Brasil, com a derrubada do governo eleito de Dilma Rousseff através de um processo de impeachment fraudulento. O objetivo do golpe não se resumiu ao afastamento da presidenta eleita, mas o estabelecimento de um programa de ataques contra os direitos sociais e democráticos da população brasileira.
Alguns setores da esquerda apressadamente caracterizou que o golpe seria apenas um “golpe parlamentar” ou “ golpe light”, um “golpe brando de novo tipo” pois as “ instituições continuavam funcionando”. Essa visão revelou-se extremamente equivocada, pois aceitava que a manutenção (circunstancial) de uma fachada legal( bastante frágil por sinal, uma vez que não houve crime de responsabilidade da presidenta Dilma Rousseff para justificar a abertura do processo de impeachment) seria o que definia o golpe.
Em geral, amplos setores da intelectualidade brasileira não vislumbraram a possibilidade de golpe, mesmo intelectuais ( especialmente ligados aos partidos da Frente Popular) que se colocaram contra o golpe, e participaram do movimento Não vai ter Golpe, demonstravam uma crença quase religiosa na fabula da “ democracia consolidada”.
Um exemplo disso, foi a falta de análise crítica sobre os desdobramentos do golpe após o afastamento definitivo da presidenta Dilma pelo Congresso corrupto, assim, muitos intelectuais , inclusive uma ampla parcela de petistas simplesmente abandonaram a luta contra o golpe ( ou seja o restabelecimento do governo eleito de Dilma) e embarcaram de maneira inconsequente na ilusão de “ diretas” e que a “ vitória de Lula 2018” seria possível sem desmantelar o regime golpista. Isso quando aumentava-se de maneira gradativa, mas decisiva, o controle sobre as instituições “ democráticas” pelos golpistas.
O caso mais extremo de cegueira política é a completa insensatez dos “marxianos” da esquerda pequeno burguesa (setores do PSOL, PSTU, PCB) que negaram o golpe, sendo que os morenistas no PSOL e no PSTU chegaram a apoiar abertamente o golpe, através da defesa da Operação Lava Jato e da derrubada do governo da frente popular, postulando o ” Fora Dilma”/ ” Fora Todos”.
Através de um grande acordão a esquerda pequeno burguesa estabeleceu uma ” hegemonia”, na verdade, uma ditadura sobre o Andes ( sindicato nacional de docentes do ensino superior). Durante o desenrolar do golpe de estado no Brasil, os docentes ligados ao grupão majoritário ( em especial os marxianos mais “radicais” da fauna acadêmica) colocaram uma série de obstáculos para impedir que o Andes participasse da luta contra o golpe. Assim, predominou o posicionamento simplório e nada marxista de que ” todos são iguais” ou até mesmo que ” O PT era principal representante do capital” e portanto deveria ser combativo como inimigo preferencial.
Em 2016, nas véspera da votação do afastamento da presidenta Dilma pelo Senado Federal, o 61 Conad do Andes aprovou por estreita margem, a resolução defendida pela recém empossada presidente do Andes, Eblin Joseph Farage (ADUFF) de que ” não havia golpe” e mais ainda que o Andes não deveria nem mesmo se posicionar contra o processo de impeachment sem provas de responsabilidade da presidenta Dilma Rousseff. Esse fato documentado em ata, disponível no site do Andes, é um dado histórico irrefutável que expressa a recusa do Andes em defender a democracia, fazendo coro com a direita, que promovia o golpe.
Por sinal, a caracterização neste evento do Andes de que o governo Temer era ” ilegitimo”, foi a maneira demagógica da esquerda pequeno burguesa de dizer que era contra o governo. Como perguntar não ofende: Em que consiste exatamente a ilegitimidade do governo Temer? Se não é no fato que ele foi fruto de uma usurpação dos golpistas da legitimidade popular expressa no vota em Dilma.
Apesar da enorme disposição de luta contra o golpe nas universidades e na base da categoria docente, que se manifestou na criação de dezenas de comités de luta contra o golpe em todo país, a direção do Andes, capturada pela burocracia sindical ultraesquerdista da CSP levou o Andes a completa paralisia política, fazendo uma frente prática com a direita que estava colocando em marcha as engrenagens do golpe de estado no pais.
Grosso Modo, no minimo a diretoria do Andes ajudou a encobrir a ação dos golpistas na medida que negava que havia golpe, ou seja ajudando a direita a camuflar seus reais objetivos.
E mais que isso, ao contrário do que afirma o famoso milongueiro da USP ( representante do PO argentino), o Andes, sob a tutela do PSOL/PSTU/PCB , nunca foi ” um dos bastiões (o único de alcance nacional) do sindicalismo classista nos últimos anos”, muito pelo contrário, a política centrista da diretoria do Andes é uma versão amenizada do sectarismo da ” central sindical” do PSTU, que sindicato nacional é filiado, cumprira um papel prático profundamente contra revolucionário. Exagero? Então vejamos.
Quando qualquer docente manifestasse remotamente o interesse em participar da mobilização contra o golpe da direita, os representantes do grupão oportunista da direção do Andes lançava toda sorte de acusações e ataques ” não se pode participar de manifestações com governistas”, que quem participava da luta contra o golpe, na verdade estava sendo cúmplice de tudo de ruim que o governo Dilma e PT fazia, pois ” não havia golpe algum” , etc, etc. Esse suposto “purismo revolucionário”, somente serviu para atacar a luta contra o golpe, favorecendo totalmente os golpistas. É a mesma política da CSP/PSTU em defender a derrubada do governo Maduro na Venezuela, e atacar qualquer um que ouse fazer frente única com o governo nacionalista contra o imperialismo.
Então, é ou não uma política de frente única com a direita negar o golpe e não defender o governo eleito? O que significa na prática a constante e permanente campanha de constrangimento e desmoralização dos que lutam contra o golpe?
Por sinal, a chapa da diretoria do Andes, que nega que negou o golpe, vem com a conversa mole de que em nome da ” autonomia” não defende nenhum governo. Isso para engabelar a categoria docente, como um aplique de que não defendeu o governo Dilma do golpe e o PT da perseguicao da direita golpista, pois o ” Andes é autonomo” de partidos e governos.
Bem, vamos esclarecer mais esse embuste da esquerda pequeno burguesa do Andes, o argumento de ” autonomia” diante dos ” governos” é puro cinismo de quem covardemente recusou-se a lutar contra o golpe e defender um governo eleito.
A suposta ” autonomia” é tão somente uma abstração interesseira, que na conjuntura concreta da luta de classes no Brasil e na América Latina, em que governos eleitos democraticamente são derrubados ou ameaçados de golpe de estado é uma capitulação pura e simples para os golpistas de direita. Os governos nacionalistas e da esquerda reformista como do PT precisam sim ser defendidos dos golpes de estados, e isso não significa de forma alguma defender a política desses governos. Isso é elementar da luta politica.
O desenvolvimento da crise política, inclusive com o impasse do próprio golpe devido a completa ausência de apoio popular ao governo Temer, divisão entre as forças golpistas e o crescimento do apoio popular a Lula tem colocado em questão como se dará a própria continuidade do golpe. A intervenção militar no Rio de Janeiro e a condenação com ameaça de prisão do ex-presidente Lula são pontos de relevo que evidenciam que o desdobramento do golpe não está sendo nada light e tende inclusive ao aprofundamento do autoritarismo.