Autor: Herbert Toledo Martins
A violência e a criminalidade avançam para as cidades do interior do Brasil. Há uma migração dessa violência para localidades que antes eram consideradas relativamente pacíficas, como as cidades de interior, e de determinadas regiões como a do Nordeste. Esse é o dado da realidade confirmado pelos Mapas da Violência. Cenas dramáticas como as que ocorreram em Amargosa, BA, além de provocar uma reflexão sobre o modelo de segurança pública que uma sociedade democrática requer, expõe o “desafio da esquerda” no campo das políticas de segurança pública. A esquerda não tem uma política dela mesma, uma política capaz de ser diferente das políticas de segurança pública dos governos conservadores e coronelistas. E por não ter uma política mais avançada de segurança pública ela abraça o velho e desgastado paradigma da direita truculenta, isto é, a guerra às drogas. Eis aqui a raiz do problema. Mais desastroso ainda é a política de guerra às drogas casada com uma polícia despreparada e militarizada cujo objetivo é o combate aos traficantes. É preciso, portanto, criar uma força de coalisão política neste país que seja capaz de por fim à criminalização das drogas na sociedade brasileira. Esse é o desafio que se impõe sobre aqueles que estão no governo, e se dizem de esquerda, a de dar um passo em direção a outras modalidades de controle das externalidades negativas que as drogas provocam; que a abordagem de usuários e adictos seja feita por equipes de médicos, enfermeiros, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais e não por policiais valentões imbuídos de um ethos guerreiro que os tornam justiceiros que chegam atirando. Se não avançarmos em direção às politicas de descriminalização das drogas, as taxas de criminalidade e violência tendem a continuar a crescer indefinidamente. Esse é o desafio que todos devemos enfrentar, a não ser que queiramos permanecer no bang bang cotidiano das nossas cidades outrora cidades de paz e tranquilidade.